Vejo um caminho repleto de árvores. Diametralmente opostas, seguindo o traçado tortuoso da estrada, não me sinto só. Vejo uma pedra lançada pelo tempo. Vejo um musgo qualquer se confundindo com todos os outros, que não são outros, são o mesmo musgo verde e húmido. Vejo cascas solitárias de árvores já não mais existentes. Sinto o asfato nos pés descalços. Vejo as cores usadas, as britas encrustradas no piche já ceco. Marco o passo e respiro um ar vindo dos dinossauros… intacto e puro. Percebo formigas e besouros mil a passearem entre si, sem se importarem uns com os outros. Sinto o calor vindo das ondas solares enquanto vejo as nuvens formarem minhas ânsias. E no passar do tempo, incalto continuo.
É quando me sinto só ao ver um homem passar por mim. Ele não sorri, não fala, não me atenta, não se faz importante, só passa e deixa pra trás um rastro escuro e frio de doença. A doença que atinge todos nós… a indiferença por ele mesma.
Fico a olhá-lo dessa distância de agora. Fico a observá-lo solitário e silente em seu mar de egoísmo. Ele não vê o que vi, ele não se importa. É quando percebo que perdi meu tempo ao doá-lo a alguém frio e passivo. Não me permitirei sangrar ou sofrer por quem não está aqui. Diferente daquela formiga que não me via, mas desfilava para aquele olhar que lhe fitava, desfilava plena como desfila pra todas as outras que lhe cercam, mesmo que no fundo elas nem saibam o que seja olhar.
É quando sinto a dor de quem construiu aquela estrada. Fria ou quente, mas a mesma estrada. Que permite a passagem de pessoas inteiras e partidas, passivas ou fortes, impecáveis ou descuidadas, malditas ou alegres. A estrada não escolhe quem trafega, mas doa-se por ser de sua natureza palco para a passagem delas. E eu arlequim do acaso, acabo insinuando uma passo estranho no meio do nada que o indiferente deixou pra trás. Em meio ao turbilhão de vida que me anima, mesmo quando meu coração pesa…