Havia um lugar, longe... no tempo. Retocando um lugar, hoje, já esquecido.
As pessoas não falavam, não sabiam. E essa é a história de como aprenderam.
Viviam todos sem modos, do jeito que o jeito permitisse.Coçavam quando podiam, lambiam , riam, sem nem pensar no som.
Certo dia um deles empurrou alguém, e foi a primeira guerra que viram.
Se estapearam e grunhiam ensandecidamente. Em certo ponto já exaustos, um destes caiu. No impulso segurou uma pedra e com um simples movimento estourou a cabeça do outro.
Todos olharam extasiados. Tiveram um clarão e entenderam a queda do corpo, o outro, o vivo podia matar.O horror daquilo fez com que todos pegassem uma pedra e jogasse como conseguiam no vivo, que não tardou em sangrar e morrer.
E nesses instantes de entendimento, vivo/morto, eles se viram matando, começando assim uma chuva de pedras para todos os lados. Todos agora sabiam matar e se mataram um a um.
Rápido sobraram apenas três, soterrados até o umbigo por copos mortos de seus irmãos, primos, tios, pais, mesmo eles nem ao menos sabendo nada disso.
Os três assim pararam por não verem mais pedras, só corpos. Eram tantos que havia um monte deles entre eles, visto que as pedras acabara a muito tempo.
Eles não se viam. Gritavam, grunhiam, se debatiam e não conseguiam mudar, sair dali.
E isso demorou.
Dias passaram e a fome, sede vieram derrubar a razão da celeuma.
Foi assim que escutaram um choro, de dentro do monte.
Nada fizeram.
O choro demorou até que alguém brotou de dentro dali. Uma garota banhada em sangue. Foi um parto sofrido. Demorado. Primeiro a cabeça, os dedos, braços, os seios, o corpo.
Ao sair levantou-se comedidamente.
Limpou os olhos e viu em poucos passos os três soterrados.
Foi assim que um deles falou: "tira! corpo!", gesticulando debilmente.
Ela sem qualquer interesse presente foi lá no alto, escalando e tirou o primeiro corpo, do alto.
Levou pra longe.
Quando voltou outro falou: tira! tira!
Ela prontamente retirou lá do alto outro, e assim durante o dia e a noite. Eles incansavelmente não paravam de pedir e ela de tirar. Em certo momento já não havia nenhum corpo entre os três.
E assim eles se viram soterrados, fatigados, empedernidos.
Mas não tardou em sentirem vergonha. Foi tanta que começaram a rasgar os corpos endurecidos de cima de suas pernas, de seus ventres, seus umbigos.
Foi tanto rasgo que por fim afundaram numa possa de sangue, pele, vísceras, suor. Afundaram quando já podiam sair, mas era tanto o cansaço que se findaram lentamente.
Ela de pé, depois de ver todo o ocorrido se volta para os corpos que retirou de lá.
Um a um levantando-se peremptoriamente.
Se olhavam e repetiam consigo: "tira. corpo. tira."