Uno consigo e com o mundo

Venho hoje tratar de um processo prático, que iniciei já há algum tempo, para relatar algo que apresentou-se de forma muito característica.

Todos ao pensar em práticas místicas, ocultistas, mágicas, em sua grande maioria, não enxergam o contexto total da situação. Para compreender o que estou tratando vamos pensar em rituais e sua mecânica:

Basicamente um ritual é composto de alguns processos básicos como: preparação, condução e encerramento.


No processo de preparação temos o lado totalmente intelectual do processo, ou quase totalmente. É quando definimos as metas, organizamos os futuros horários, determinamos quais influências farão parte e as que não. Quais mantras serão usados, quais sigilos, quais entidades ou lugares deverão estar presentes. Organizamos o rito teoricamente pensando em seu começo, meio e fim. Tendo isso em mãos podemos dizer que o rito em si já começou. Nossa mente ao envolver-se com o objetivo cria vínculos com as forças mais próximas ou atrito dependendo do contexto geral do indivíduo. Tudo isso deve ser avaliado para ser coordenado no devido momento. Mas claro para todos os improvisadores de plantão muitos destes detalhes serão descartados, relevados. O que não significa que não é preciso conhecimento de causa, muito pelo contrário. Se você é adepto do improviso é necessário muito mais conhecimento formal (literal) do que para outros que se utilizarem dos suportes (livros - grimórios - etc). O improviso requer muito mais aptidão para lidar com os acasos que serão muitos.

Sendo assim virá a condução. Provavelmente muitos pensarão que só no dia que foi escolhido a coisa toda começará de fato e esse é um erro perigoso. O processo começa no momento que o desejo se instala por dentro, ou se torna mais claro para o indivíduo. Tudo o que for feito pesará consideravelmente na condução e exigirá cuidados. Se já no momento da preparação mais teórica o indivíduo já cria vínculos, quanto mais aproximar-se da data, da ação, mais e mais coisas deverão ser observadas. Tudo deve ser anotado. Sonhos, pensamentos, sensações, palavras soltas, o vento. Tudo o que tiver um "sentido", mesmo que momentâneo não deve ser descartado. Essas observações irão ajudar justamente na correção do rito, se porventura for necessário ou mesmo no ato de requintar o processo como um todo, pois se não houver um mínimo de beleza, há algo errado. 

Portanto a condução ocorre a todo instante e terá seu ápice no fatídico dia. Tendo em mente que dependendo do paradigma escolhido o roteiro e os passos serão característicos do sistema adotado e consequentemente terão limitações distintas; não vamos usar Goétia para invocar deuses nórdicos, a menos que isso faça muito sentido na cabeça do indivíduo, em seres normais isso é confusão na certa. Essa condução implica em práticas diárias e comedidas. É o cabresto do corpo no que se relaciona aos impulsos. É quando começamos a dizer para nós mesmos que o que vale é o alvo e não o cansaço. Mas como coloquei, depende principalmente do sistema e paradigmas adotados, alguns se intensificam justamente no conflito e isso é uma implicação de cada um. "Conhece-te a ti mesmo e...". Essa frase sempre faz sentido.

Contudo é chegada a hora e neste instante todo o cuidado de antes criará o clima necessário para o envolvimento. É o momento do sexo, é quando deveríamos ser unos com a ideia focada. Esse dia é especial, mas não mais do que os anteriores. É como se fosse a comemoração da festa, quando tudo finalmente está pronto. É o momento de apertar o botão e verificar se todos os fios foram devidamente colocados. É o vamos ver. Nesse ponto não há considerações maiores a serem feitas do que a velha experiência. Ou você sabe o que quer e o que faz, tanto quanto o pra que faz, ou nada disso vai surtir efeito algum, no mínimo esvaziará seus reservatórios de energia causando um baita mal humor, como coisas mais trágicas como obsessores e vínculos prejudiciais.

Assim, se tudo correr bem, você terá um filho. Um turbilhão astral estará "presente" e acometerá a realidade a transformações sutis ou profundas. Cabe ser sensato e ver que nem tudo o que desejamos é de fato algo possível para o momento, nem tudo em que focamos é necessário e, portanto, já que internamente essas mentiras são claramente percebidas, nada frutificará como esperado. Ou teremos resultados variados, indo pelas respostas vagas a mudanças traumáticas. "Nada é verdadeiro... Tudo é permitido.".

Talvez você se pergunte aonde está a exatidão nisso e respondo com um simples "...conhecerás os deuses e os universos.". É interessante repetir essa frase muitas vezes. A "ciência" por trás disso está ancorada na experiência. E só seus passos poderão lhe dizer aonde você chegará. Ser capaz de avaliar isso com precisão é o passo a frente do mago, tão citado em textos deste tipo. Saiba olhar-se, é o único modo de reconhecer que o "demônio" apropriou-se de sua face.

Assim tudo feito chegamos no encerramento e sendo assim tudo isso precisa ser declarado como feito, terminado. A mente consciente deve deixar todos esses pormenores de lado. É necessário isso, como é necessário dormir. Manter os processos na mente só causarão mais e mais desvirtuações e provavelmente você chegará um dia dizendo: "Isso não funciona". Na verdade funcionou e muito, mas não aonde deveria ou aonde o olhar repousava. 

Do mesmo modo que implico em dizer que é necessário encerrar, muitas das vezes é necessário também reativar. De tempos em tempos a energia, o turbilhão citado perderá sua inércia inicial requerendo um empurrão, menor, mas tão importante quanto. Esse empurrão manterá o processo por mais algum tempo. Vale ressaltar que para aqueles que se utilizam de entidades esse momento é o momento da oferenda. "Acenda uma vela por sete dias... Depois de uma semana volte lá e coloque tal e tal coisa". Tudo isso está reativando, reacendendo a chama, está implicando ainda mais. 

Em casos onde o que é usado são as inferências astrológicas, provavelmente o tempo será maior para que isso ocorra. Você precisará medir com exatidão onde e quando ocorrerão as mesmas conjunções e portanto reacender a intenção. Tudo isso é tão importante quanto. Não há um único detalhe aqui mais ou menos importante. Vale ressaltar que a mente deverá ser hábil o suficiente para permanecer com a ideia em mente o tempo que for necessário e deverá descartar o foco no momento exato só retomando o feeling da ação numa possível recarga. Já parou para pensar em como analisar algo sem se envolver? Como tratar de um rito feito e "finalizado" sem embarcar novamente no turbilhão? E conseguir voltar tempos depois e emocionar-se devidamente, esquecendo exatamente da mesma forma de antes?

Treino, não existe outra solução. É preciso quebrar a preguiça no que se relaciona ao oculto e espiritual. É preciso acordar. Tudo já está ocorrendo. E acredito eu que ao término deste texto provavelmente algo já nasce por dentro. Essa baqueta pesa, milhões de toneladas. 

Vale ressaltar que aqui muitos pontos ficaram de fora. Detalhes importantes que tratarei posteriormente. 

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Se porventura ler algo estranho e que aparenta não condizer com a realidade sinta-se à vontade para comentar abaixo. Ficarei grato.