não há pecado... Estudo I

Ontem me peguei lendo um livro de Masaharu Taniguchi da linha de pensamento SEICHO-NO-EI, do qual eu nunca tinha tido contato antes. E digo logo: não gostei. Fraco o livro, contudo relevando isso a ideia do livro é genial. O título é: "A humanidade é isenta de pecado", e quando pensei de fato nesse título percebi o quanto eu penso da mesma forma.

Li quase nada, não por que eu não quisesse, mas devido a hora tarde e ao jeito chato dele de insistir que está certo (possuidor da verdade), outro ponto péssimo do livro. Mas sabe quando a vida nos joga na cara ideias por meio de coisas das quais desprezamos? Pois bem, esse foi meu caso.



Foi assim que logo de cara o autor já começa tratando do inconsciente e de como um indivíduo, ele mesmo, conseguiu resolver boa parte de alguns problemas que tinha com a esposa quando parou de tratar certos acontecimentos como pecado ou mesmo carma. O genial nisso não são nem as informações sobre psicologia ou mesmo postura diante da vida, mas do simples fato de que o corpo reage às coisas das quais damos atenção.

Isso encaixa perfeitamente com um texto que vez ou outra eu voltava, tentando desenvolve-lo para colocar aqui, onde o título até então é: "A burrice do corpo". Claro que não tento nesse texto afirmar isso, mas justamente o oposto e que essa tal burrice é nossa, enquanto seres pensantes.

No livro é destacado de cara o quanto nosso corpo trabalha, inconscientemente, para manter a segurança seja ela positiva de fato ou não. O que importa é o desejo e se este desejo for ameaçado ações serão tomadas.

Seria o que se chama por autossabotagem (mas não é exatamente), onde um indivíduo que estivesse numa situação X, chata e entediante poderia se dar conta que do nada uma dor de cabeça o alcançou ou mesmo em alguns casos febre e pressão baixa dentre outras coisas. O que ocorre nesse caso é que inconscientemente nós nos magnetizamos e informamos que algo precisa ser feito (qualquer coisa) e o corpo prontamente reage, criando reações das mais diversas. Algumas vezes nem chega a ser algo físico e sim uma atitude, uma resposta sem pensar, uma grosseria, etc. O importante nesse caso é que algo toma a frente e tenta resolver o problema; tenta nos tirar do problema seja até mesmo trazendo de volta doenças, dores, complicações. Isso explica simploriamente algumas atitudes que tomamos, atitudes tais que nós mesmos sabemos que não é interessante tomar, mas não conseguimos evitar.

Esse fato de não evitarmos é a grande sacada da questão e não evitamos por que não estamos atentos o suficiente a tudo o que ocorre nas nossas cabeças (primeira possível razão). Algo acontece que vai além dessa atenção e isso é um erro, por vezes, grosseiro. Nesse ponto começo a pensar nas práticas orientais, onde há a insistência na responsabilidade absoluta que supera nossos desejos pessoais e implica em alterar a realidade independente de no fundo desejarmos ou não. O importante é mantermos o foco e praticarmos com o objetivo claro de nos lapidarmos por que no fundo de fato somos grosseiros (temos arestas).

Mas isso ainda não é o que achei genial realmente. Pra trazer esse ponto à tona claramente preciso expor meu pensamento original.

Há uma relação entre você que pensa e você que reage (premissa). Essa relação é por vezes difícil demais, cheia de curvas e linhas indiretas. Há indivíduos dos quais essa relação aparenta nem ao menos existir. E essa relação é a chave para muitas resoluções.

Quando estamos diante de um fato, ocorre junto todo um processamento de informações das mais variadas, criando links e construindo a situação além do caso físico somente. Assim encontraremos toda uma realidade interna em todos os indivíduos envolvidos. Dependendo de como se encara o caso, o indivíduo trabalhará de um modo específico a informação. Sendo assim pensemos que seja um acontecimento trágico na vida de uma pessoa sem muita maturidade. Tal acontecimento ficará registrado no "inconsciente" (tudo o que se processa/ocorre na mente, do qual não nos damos conta ou não conseguimos nos dar conta) e será um divisor de águas mais cedo ou mais tarde.

Pensemos no seguinte ponto: o corpo e todas seus órgãos são uma grande máquina de fazer ações. A reflexão é uma capacidade cognitiva da qual o corpo em si não se utiliza diretamente como o ser que pensa se utiliza. Essas organizações de informações e de valores está muito além da intenção corpórea em permanecer vivo. Mas isso não significa que o corpo não pense de fato, o que ocorre é que valores de positivo ou negativo nem sempre estão tão claros para o corpo (muitas vezes podendo estar invertidos) e justamente por não estar tão claro é que nossas intenções/pensamentos/emoções criam reações as vezes muito impactantes para o meio onde nos encontramos.

 Sendo assim há de fato um dialogo eterno entre você que pensa e você que faz. Esse paradoxo não prova que somos feitos de pedaços (que somos de fato divididos), mas que somos capazes de dinamizar uma realidade em várias outras por meio da "atenção dedicada". Fragmentamos por meio da atenção, muitas vezes sem nos darmos conta e sendo assim distanciamos esse eu pensante do eu atuante como se fossem dois. No meio encontramos as emoções a borbulharem freneticamente criando uma amalgama nessa separação. Por fim continuamos inteiros, mas nos dividiremos cada vez mais dependendo do quão difícil se torne a responsabilidade em sermos unos. E ai está a doença.

Ao nos fragmentarmos criamos uma solidão, seja deste que pensa, seja deste que reage. Cada qual em seu galho tomando destinos para si. Como no fundo somos um só, o que sofre o corpo a mente sente, o que sofre a mente o corpo sente. Assim sendo na busca fugaz e essencial de ser um só todas essas divisões se unem da maneira que for possível e o caos está estabelecido. Assim quando nos deparamos com coisas das quais não gostamos vamos experimentar dores e incômodos vindos do além. O que em partes é interessante visto que isso pode se tornar um alerta, mas muitas vezes somos muito lentos para perceber ou somos fracos e queremos realmente fugir.

Por fim, voltando ao livro, este trata de um fato externo que ao longo da história humana/social foi inserido firmemente no nossos espaços escuros (inconsciente) por vários dogmas, principalmente o cristão. O pecado é o melhor cabresto já criado. Ele se apoia no aspecto de que o chefe maior, a divindade, determinou muitas coisas como erradas (supõem-se que a divindade tenha perdido seu tempo para nos impor algum tipo de limite). Isso já inibe o crente (aquele que crê em algo) a tomar posse de si e enfrentar a realidade olhando de frente.

O pecado é uma ferramenta de controle, somente, e está tão arraigado nos espaços escuros do ser humano que mesmo para os não crentes tem valor e peso, mesmo que este não admita ou perceba (muitos ditos satanistas são na verdade cristãos em crise). O pecado, por intermédio dos que defenderam e defendem sua razão de ser, matou/prejudicou, coibiu por muitos séculos.  O pecado assim sendo é uma grande inverdade tomada como fato. E quem mais sofre com isso é o corpo ao estigmatizar-se diante daquilo que abomina. Claro que o medo é o grande aliado deste e vem secando (murchando) muitos ao longo da história.

Mas não basta afirmar que o pecado não existe. Na verdade ele existe, passou a existir no momento em que milhões deram e dão valor a sua existência (mesmo que no fundo fictícia). Assim sendo o pecado é um algo e precisa antes de ser superado, ser destronado. E para que isso ocorra o diálogo que outrora citei deverá tomar outros níveis.

O corpo é tolo, isto é uma quase verdade. Mas esta tolice do corpo só existe por que insistimos em separar o ser que pensa do ser que age como se de fato este pedaço fosse outrem. O diálogo existe assim mesmo utilizando-se das emoções para trafegar de um para outro. Mas isso é uma situação calamitosa. É frágil e vale ser repensada. O pecado, compreenda, ainda assim não é o grande vilão da questão. O vilão é nos dividirmos. No momento em que nos separamos e criamos "a solidão de nós mesmos", os espaços escuros adquirem uma força desproporcional. O diálogo agora não é só entre dois, mas entre vários. O corpo fala consigo e com o ser que pensa e sofre por meio da emoção. O ser que pensa se vê como único e senhor do resto e dialoga consigo como se estivesse diante de um espelho, criando duplicatas de si e menosprezando a emoção que trafega sem pensar, já que o corpo emocional é somente (mas não por isso pouco) fluido energético humano. E o corpo para o ser que pensa é somente uma máquina. Nesse ponto já não somos 2 somente, somos de fato vários. E quanto mais discursos possuímos mais complicada se torna toda e qualquer besteira que surgir. Imagine agora o pecado, tendo em sua significação o peso de levá-lo a uma eternidade de expiação. O terror está estabelecido e não mais há diálogo: há fuga, confusão, briga, guerra, dor, tristeza, rancor e por ai vai. Este indivíduo, assim sendo, é um saco de pedaços de si mesmo apodrecidos.

Mas antes de querer colocar aqui um método de como saber lidar com essa falta de diálogo venho trazer somente a reflexão e percepção desta falta. O como resolver isso é uma responsabilidade pessoal e não há métodos a não ser um único... tomar para si todos estes diálogos, mesmo quando estes envergonham, e sendo assim possui-los ou descartá-los.

No fundo não desejo terminar esse texto por aqui. Este é uma assunto do qual há espaço pra muito mais análise. Contudo também não implico que o que escrevo aqui é advindo de uma pedra e não será mudado. Em termos esse é um texto orgânico e com o tempo e mais leitura espero trazer outros tantos pontos não tratados hoje. As citações das quais poderia ter feito aqui ficam como indicações de leituras, não por que são donos de uma verdade imutável, mas por que foram indivíduos que trabalharam sobre tais pontos em algum momento de suas obras. Se há interesse real procure ler Freud e Jung e tantos outros estudiosos da psicologia. Muitas ideias novas surgirão ao abarcar certos pontos e posicionamento destes. Vale a pena também ler sobre práticas orientais de meditação, que nesse caso acredito ser de uma importância gigantesca.

Por fim como coloquei, aqui está um estudo em andamento. Esses pontos que aqui trato sempre foram muito controversos para que eu simplesmente chegasse e colocasse as ideias somente, como numa sopa. E por isso mesmo persigo estes pontos, há de existir saída neste labirinto e o que se apresenta hoje é fundir-se e tomar todos esses discursos por um só.

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