O caminho se abre para todos e teimamos em nos sentir especiais quando avançamos por eles. O trabalho que enfrentamos nos dão a falsa impressão de que de fato estamos acima de algo, ou por cima da banda podre e isso nada mais é do que uma ilusão...
...o trabalho de superação é individual e deste modo implica em condições e modos somente para quem vivencia. O que o outro sofre a partir disto são fatores secundários a este aspecto. E nada mais falso do que um alguém que toma pra si uma perfeição exclusiva, uma bondade insípida e trata os outros a partir deste pensamento. O que leva alguém que compreende determinada coisa a acreditar que tem uma cadeira cativa na frente por causa disto? O que leva alguém a desmerecer certas amizades por que este se sente muito puro para estar na presença destes pobres mortais? Amizades são desfeitas por que o indivíduo agora é outro e não pode se envolver mais com qualquer um. Já vi tanto disso que começo a pensar que realmente tais pessoas não só se sentem superiores e melhores como acreditam nisto. O quanto de informação e conhecimento já obtive e nunca me senti mais especial do que alguém, mesmo quando este não alcançava o que era tratado. Contudo reconheço que se houve esforço e busca sincera este de fato abarca algo a mais da realidade e portanto poderá a partir disto trazer algo para perto e disseminar uma nova situação. Mas tal postura destes "especiais" são tão infames que é possível que quando tocarem numa mísera capa de um livro odiado as suas mãos cairão. Muitas das vezes estes esquecem que não é o toque que contagia, mas os pensamentos que lhe dão acesso e que permite a entrada. E tentar ser puro e sagrado achando que os outros não merecem sua presença tão nobre é tão estúpido que nem pra rir serve. Ilusão ilude inclusive o ator! Ridícula esta afirmação, mas não há nada mais real do que isto. No dia em que o fato de utilizar de uma planta de poder, de um rito, de uma reunião fizer alguém superior e mais especial do que outra pessoa eu paro. Por que a natureza iria transformar um alguém num ser melhor do que outros pela simples ingestão de um chá? Alcançar o véu de Isis e transpo-lo é só um ato do qual todos são capazes de fazer e muitos fazem sem nem perceber. O que há de especial nisto? A Natureza não é exclusivista, não há uma porta a afunilar nenhuma vitória póstuma, a escolher um em detrimento de outros. Esse processo é pessoal e totalmente individual. Somos nós que nos julgamos perante o fim e seremos nós a criar a dor ou alegria de conviver com nossas lembranças nas paragens ermas do infinito quando o derradeiro momento vier. Certa vez com um amigo num bar da cidade escutei ele se perguntando o que de fato estava fazendo ali no meio de tanta sordidez e tanta impureza. Olhei pra ele e falei que o lugar e a situação não importavam de fato. O que vale é somente se somos capazes de permanecer como somos em qualquer situação. O erro alheio só contagia quem no fundo se identifica. Não é a entrada num antro que nos tornará sujos, mas sim regurgitar as mesmas agonias destes. Olhamos tanto as bocas alheias e esquecemos da baba que escorre na nossa. E não adianta enxugar enquanto o pensamento for tão mesquinho. Essa equação social não funciona em outros planos de atuação. Entretanto concordo que evitar certas coisas facilitam nossa caminhada. Contudo se nossa busca é sincera não precisamos de muito esforço para sairmos de tais situações já que por natureza da força somos levados a vivenciar as coisas de acordo com o que guardamos dentro. E por isso falei o que falei para este meu amigo. Enquanto ele via um inferninho a sua volta eu via pessoas normais fazendo coisas tolas ou não. Enquanto ele sentia-se inseguro e fragilizado em sua pureza eu ria e me divertia com qualquer um. Ele sentia ojeriza pelo lugar, eu não me importava com o que estava ali, desde que eu não levasse para minha casa coisas das quais não queria. E quando dobrei a rua indo embora aquilo ficou pra trás, como todas as situações superficiais do lugar. Se perdi algo ou ganhei algo não vem ao caso. O caso é que não me tornei impuro por que andei ao lado destes. Mas benditos olhos que nos seduzem com seus brilhos. E um "impuro" por vezes aparenta ser tão ilibado que paro de querer saber o que o outro é de fato. Isso não tem que importar. Importa somente o que me é revelado pela ação destes de nos informar. Se pretendem ser o que não são este não é meu problema, mas se pretendem me coagir a ser como são, dai são mais quinhentos. E por esse pensamento veremos muitos "gurus" santos na solidão. Quando conseguirmos perceber que somos nós na direção...